O sistema de trens urbanos no Nordeste pode sofrer um colapso total a partir de julho de 2025, afetando diretamente o transporte público em quatro capitais da região. Segundo alerta da Companhia Brasileira de Trens Urbanos, a paralisação completa está prevista para agosto, caso não haja recomposição imediata do orçamento destinado à manutenção das operações. A crise atinge os sistemas ferroviários de Natal, Recife, João Pessoa e Maceió, que hoje transportam milhares de pessoas diariamente e são fundamentais para a mobilidade urbana nas respectivas regiões metropolitanas.
A Companhia Brasileira de Trens Urbanos identificou uma redução alarmante no orçamento federal para o setor em 2025. Enquanto no ano anterior o valor destinado ao custeio foi de R$ 216 milhões, em 2025 o montante caiu para apenas R$ 165 milhões. O déficit estimado é de R$ 95 milhões, e a CBTU aponta que seriam necessários ao menos R$ 260 milhões para garantir a continuidade plena dos serviços. A insuficiência orçamentária não compromete apenas o funcionamento das linhas, mas também a segurança, a manutenção e a integridade do patrimônio público envolvido.
A paralisação dos trens urbanos no Nordeste poderá gerar efeitos em cascata para toda a estrutura de transporte público da região. Caso as operações cessem, haverá aumento da pressão sobre ônibus e outros modais, o que pode resultar em superlotação, aumento de tarifas e maior tempo de deslocamento para trabalhadores e estudantes. Além disso, com os trens parados, o custo de vigilância e monitoramento permanece, onerando os cofres públicos mesmo sem retorno à população.
Em Natal, a situação é particularmente delicada, já que os trens urbanos integram o cotidiano de grande parte dos moradores da capital e da região metropolitana. A ausência do transporte ferroviário afetaria profundamente a logística da cidade, atingindo principalmente as camadas mais vulneráveis da população, que utilizam o serviço por sua acessibilidade e baixo custo. A CBTU já alertou para o risco de depredações e abandono das estações e trilhos, caso não haja investimentos urgentes.
O ofício enviado pela Companhia Brasileira de Trens Urbanos ao Ministério das Cidades solicita sensibilidade do governo federal quanto à relevância social e econômica dos trens urbanos no Nordeste. A carta destaca que os sistemas ferroviários são essenciais para garantir o direito à mobilidade e que a sua interrupção comprometeria metas de desenvolvimento sustentável e inclusão social previstas nas políticas públicas nacionais.
Além do impacto na mobilidade, o colapso dos trens urbanos no Nordeste compromete projetos em andamento. A fase 4 de expansão das linhas, por exemplo, teve avanços recentes no Rio Grande do Norte, com a revitalização do trecho entre Parnamirim e Nísia Floresta. A descontinuidade das operações representaria o abandono de investimentos já realizados, além da paralisação de obras e a perda de empregos diretos e indiretos ligados ao setor ferroviário.
Enquanto isso, o Ministério das Cidades ainda não se pronunciou sobre medidas emergenciais para evitar a paralisação. A ausência de respostas aumenta a incerteza sobre o futuro dos trens urbanos no Nordeste e aprofunda o cenário de crise enfrentado pela Companhia Brasileira de Trens Urbanos. Especialistas apontam que sem articulação política e recomposição orçamentária, será praticamente impossível manter o funcionamento dos sistemas ferroviários até o final do ano.
O colapso dos trens urbanos no Nordeste evidencia a fragilidade da infraestrutura de transporte público no Brasil e a urgência de uma política de financiamento sólida e permanente para o setor. A manutenção dos serviços ferroviários não é apenas uma questão logística, mas também social, ambiental e econômica. Os trens urbanos no Nordeste precisam de atenção imediata para que não se tornem mais uma vítima do descaso com os serviços públicos essenciais.
Autor: Ivan Kalashnikov