Tecnologia cada vez mais presente na vida dos brasileiros, a Inteligência Artificial já é uma realidade para o mercado de construção civil e de imobiliárias do Rio Grande do Norte. É o que apontam interlocutores do segmento, que avaliam a chegada da IA ao mercado como benéfica e com ganhos substanciais na gestão de obras, simulação de possibilidades e impactos antes da execução de um projeto e também no atendimento personalizado para determinadas situações. Empresas potiguares já têm utilizado a IA e consideram um “caminho sem volta”.
Entre as possibilidades citadas por interlocutores dos segmentos e especialistas estão a otimização de negociações imobiliárias, automatização de processos e tarefas, atendimento ao cliente com uso do Chatbot e análise de dados. Tendo alta velocidade de processamento e capacidade de dados, a IA acaba poupando tempo e agilizando processos que antes poderiam ser demorados, segundo especialistas. Apesar do avanço e do temor de alguns setores por substituição e extinção de empregos, o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Rio Grande do Norte (Sinduscon-RN), Sérgio Azevedo, reforça que os especialistas serão imprescindíveis.
“Em questão de planejamento, há uma velocidade de processamento muito maior que o ser humano, no entanto, o especialista é imprescindíveis. Quem vai dizer as referências, quem vai informar o problema, as premissa, somos nós. A IA vai nos dar respostas mais rápidas. A habilidade do ser humano em lidar com a I.A é de que teremos de ser cada vez mais competentes na hora de fazer as perguntas para obtermos as melhores respostas”, acrescenta.
Uma das empresas potiguares que têm adotado o uso da I.A no seu cotidiano é a Dois A Engenharia. Tendo como expertise a construção de parques eólicos e fotovoltaicos, a IA tem auxiliado engenheiros e técnicos da empresa em várias fases do projeto, como mapeamento de áreas, análise de terrenos para viabilização de estradas para que as torres possam chegar nesses locais e também no tocante a fase de estudos ambientais.
Segundo o engenheiro mecânico e coordenador de Inovação da Dois A, Camilo Alves, uma das tecnologias utilizadas pela empresa permite, por exemplo, mapear a natureza do terreno (tipo de rochas, profundidade, entre outros índices) para saber se haverá necessidade e a quantidade de explosivos, por exemplo. Além disso, a IA permite que a sondagem do solo seja feita por amostragem. De forma exemplificativa, Camilo explica que durante a sondagem de uma região, os engenheiros “treinam” a IA com valores de entrada da topografia da região, que gera um retorno de expectativa em relação a essas informações.
“Tudo que fazemos no parque eólico precisa de licenciamento. Então quando temos dados específicos para colocar o parque eólico numa região, algumas vezes o projeto não vem pronto. Ele vem com a região, com alguns pontos específicos do microsite, onde ficarão as torres, mas aí é responsabilidade nossa tentar identificar o projeto mais eficiente para aquela região e acessar aquelas torres. Por exemplo: precisa-se da estrada que consiga ligar todas as torres para ter mobilidade dentro do parque. Essa estrada é um projeto, que precisa de licenciamento. E para ter esse licenciamento precisamos nos preocupar com a parte ambiental, mas também com a parte geofísica, que é entender aquela região e o que tem abaixo do solo para fazermos um projeto mais eficiente”, explica Camilo Alves.
“Conseguimos tanto um projeto mais otimizado porque saberemos quando por onde vão passar essas vias de forma que otimizemos para que não passem perto de explosões, por exemplo, ou otimizar a quantidade de material para otimizar processos de perfuração, movimentações de terra e rocha, manutenção de pneus de caminhões, por exemplo”, acrescenta.
O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Rio Grande do Norte (Sinduscon-RN), Sérgio Azevedo, aponta que a Inteligência Artificial é um “aliado do processo e não um inimigo e quem não entender isso está condenado a um futuro sombrio”.
“A IA nos ajuda em praticamente tudo: no projeto técnico e executivo, no planejamento e na gestão de determinado projeto com todas as disciplinas embarcadas. Utilizamos também os drones para topografias, robôs para inspeção e monitoramento de obra para calcular os avanços daquele projeto, por exemplo”, explica.
“Vou dar um exemplo de projeto: a IA consegue processar tantas variáveis que ele pode fazer uma planta com a utilização mais eficiente daquele espaço, fazendo uma planta mais enxuta e consequentemente mais econômica. Tudo isso utilizando ferramentas de modelagem e prever problemas de projetos antes mesmo da construção”, pontua Sérgio Azevedo.
Uso de IA em imobiliárias tem impulsionado negócios
Empresa imobiliária, a Abreu Imóveis, uma das principais imobiliárias de Natal, já tem adotado o uso da IA no cotidiano. Segundo o diretor da empresa, Ricardo Abreu, a adoção aconteceu há um ano e já tem rendido frutos para a empresa.
“Isso é apenas o começo. Já temos todos os processos geridos de maneira mais satisfatória. As apresentações de produto, por exemplo, já conseguimos mostrar uma casa, que está vazia, e o cliente conta como é a família, as peculiaridades dele, se tem pet, se gosta de planta, etc, e em questões de segundo o sistema já decora aquela casa de uma maneira que o cliente vai se sentir bem atendido”, explica.
Ainda segundo Abreu, a imobiliária tem conseguido atender os clientes que buscam não apenas casas ou apartamentos, mas também salas e espaços comerciais. Com o uso da IA, é possível “ocupar” uma sala desocupada com várias versões e facilitar a locação. “Será se vai caber os itens do cliente? Em questão de pouco tempo já se tem essa resposta, sem precisar contratar um arquiteto. Claro que na hora vai chegar um momento que o cliente precise de um profissional para direcioná-lo, mas ele já fecha negócio sabendo que atende o que ele almeja”, acrescenta.
Uso das IAs também é arealidade para empresa potiguar Livreprint, uma startup que auxilia corretores do segmento a fazerem uma espécie de pré-atendimento personalizado para identificar o perfil e a ideia do que pretende aquele eventual comprador. A empresa já fornece serviços para várias imobiliárias do Brasil.
“Atuamos no setor comercial e no setor de marketing. Em ambos a IA já está muito presente. No setor comercial temos módulos de atendimento online que conseguem fazer todo o processo de atendimento, de tirar dúvidas e esclarecer sobre o empreendimento com o cliente utilizando a IA. Ele faz o processo de filtragem para lá na frente ser entregue ao corretor, nesse caso humano, que fará o processo de venda e finalização do atendimento. É ele quem dará a segurança jurídica e know-how dele. Só que a filtragem e agilidade já é feita pela IA. ”, explica o CEO Marcelo Pandolphi. “O sistema consegue, através da IA, fazer alguns questionamentos e a partir das respostas vai filtrando qual melhor produto se encaixa nele”, acrescenta.
Pesquisa: 19% das imobiliárias já utilizam IA
Uma pesquisa feita pela Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (ABRAINC) em 2023 mostrou que apenas 19% das empresas já utilizaram alguma ferramenta de IA. O conhecimento das empresas sobre o uso deste tipo de tecnologia também é embrionário no País, uma vez que apenas 26% conhecem ferramentas que atuam diretamente no mercado imobiliário.
A pesquisa foi divulgada em junho do ano passado. Entre os que utilizaram a tecnologia, 71% afirmam que notaram um impacto positivo. Entre os benefícios apontados pelos entrevistados, estão o aumento da eficiência e da precisão das transações imobiliárias, além da influência sobre o preço dos imóveis.
O CEO da Brain Inteligência Estratégica, Fábio Tadeu Araújo, conta que os gestores ouvidos acreditam que a inteligência artificial ajudará a precificar os imóveis com mais assertividade e acelerar as vendas. “Quando você conhece melhor o seu público e consegue mapear as oportunidades de venda com eficiência, os produtos são vendidos mais rápido. E quanto mais rápido você vende, maior a velocidade para subir o preço deles”, disse.